O vidro é fabricado com a fusão do mineral quartzo (dióxido de silício, SiO2) com pequenas quantidade de soda e de potassa. Sua descoberta deve ter acontecido por acaso, quando, nos primórdios da civilização, alguém fez uma fogueira muito quente sobre um solo constituído pela mistura dos citados materiais e obteve assim um material fundido e transparente. Com a inteligência que é típica de nossa espécie, o homem logo encontrou empregos úteis para essa nova substância.
O quartzo utilizado na fabricação do vidro normalmente é proveniente de areias quartzozas muito puras, encontradas em terraços fluviais e principalmente em praias e dunas. Como a maior parte das areias contém pequenos fragmentos de ferro sob a forma de óxidos como a limonita e a magnetita, elas são passadas por um separador magnético que reterá o ferro; mesmo pequenas quantidades desse elemento podem conferir ao vidro uma coloração esverdeada que normalmente não é apreciada pelos consumidores.
Alguns elementos químicos podem ser acrescentados aos vidros para dar aos mesmos certas propriedades físicas desejáveis, como o óxido de chumbo para os vidros óticos (muitos já devem ter reparado que o vidro de uma lupa ou lente de aumento, por exemplo, é mais pesado que o vidro comum), o boro para torná-lo resistente ao calor, produzindo assim panelas de vidro, tubos de ensaio, etc. Outros elementos servem para colorir o vidro, como pequenas quantidades de óxido de cobalto, que tornam o vidro azul.
A reciclagem do vidro, refundindo o mesmo para fabricar vidro novo, não só gasta menos energia que a produção primária desse material, como ajuda a preservar o meio ambiente, pois, como já foi dito, o quartzo utilizado provém de areias quatzosas muito puras de rios ou praias, e a reciclagem dos vidros fará com que menos areia seja retirada desses ambientes, evitando assim maior dano aos mesmos. O vidro não polui o meio ambiente, pois é feito com materiais naturais, sendo praticamente imune ao ataque das intempéries e seu tempo de decomposição, na natureza, é indeterminado.
quinta-feira, 31 de março de 2011
quarta-feira, 30 de março de 2011
Sistema: entidade onipresente e onipotente
Hoje resolvi fazer uma reflexão sobre o uso generalizado da palavra "sistema". Segundo nos informa literalmente a Wikipédia, "um sistema (do grego sietemiun), é um conjunto de elementos interconectados, de modo a formar um todo organizado. É uma definição usada em várias disciplinas, como Biologia, Medicina, Informática, Administração e Geologia. Vindo do grego, o termo "sistema" significa "combinar", "ajustar", "formar um conjunto".
Todos nós já nos cansamos de ouvir, após longo tempo de espera em qualquer serviço prestado pelo telefone, aquela famosa mensagem "desculpem, caros usuários, mas temporariamente nosso sistema está fora do ar". Mas quem é mesmo essa entidade que "aparece e desaparece" quando bem entende, e a cujos caprichos as nossas vidas modernas estão sujeitas? Como este blog não é de filosofia, encaminharei você, leitor, para um texto escrito com a finalidade de tentar entender quem é essa nova entidade onipotente e onipresente em nossas vidas agitadas.
http://psiclinicasocial.blogspot.com/2011/01/sistema-sis-tema.html
Todos nós já nos cansamos de ouvir, após longo tempo de espera em qualquer serviço prestado pelo telefone, aquela famosa mensagem "desculpem, caros usuários, mas temporariamente nosso sistema está fora do ar". Mas quem é mesmo essa entidade que "aparece e desaparece" quando bem entende, e a cujos caprichos as nossas vidas modernas estão sujeitas? Como este blog não é de filosofia, encaminharei você, leitor, para um texto escrito com a finalidade de tentar entender quem é essa nova entidade onipotente e onipresente em nossas vidas agitadas.
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terça-feira, 29 de março de 2011
Efeitos do acidente nuclear no Japão e reflexões para o Brasil
Um acidente nuclear libera radioatividade sob várias formas, sendo que as principais são: (1) radiação propriamente dita, sob a forma de ondas eletromagnéticas como os raios X, gama, etc. Essas são mortíferas, mas têm alcance mais limitado. (2) partículas subatômicas como as denominadas partículas alfa, que são o núcleo do elemento hélio e (3) isótopos radioativos de elementos químicos diversos, que são liberados para o meio ambiente, sob a forma de "poeira radioativa". Dentre os isótopos radioativos liberados, podemos citar o iodo 131, o estrôncio 90 e o césio 137.
As partículas subatômicas e os isótopos radioativos são muito perigosos, pois tanto podem se infiltrar no solo, carreados pela água, contaminando o mesmo e os lençóis de água subterrâneos, quanto podem ser levados pelos ventos para locais distantes da usina, sendo trazidos novamente ao solo pelas chuvas, contaminando nossas fontes de água e de alimento mesmo em locais distantes daquele do acidente, dependendo da intensidade do mesmo e da direção dos ventos. Desse modo, um acidente nuclear pode causar a contaminação de toda a cadeia alimentar dos ecossistemas que forem contaminados pela radiação.
Felizmente, o Brasil está no lado oposto do paneta em relação ao Japão e até o momento, recebeu apenas restos dessas partículas, incapazes de prejudicar nossa saúde. Os efeitos da radiação sobre o corpo humano, provenientes de (1), (2) ou (3), dependerão da intensidade da mesma e do tempo de exposição. Uma exposição direta causa queimaduras de 3º grau e morte relativamente rápida. Já nas contaminações menos intensas as pessoas podem não apresentar sintomas imediatos, mas como a radiação altera o DNA de nossas células, tais pessoas podem desenvolver uma série de doenças daí decorrentes, sendo o câncer a mais comum (principalmente de tireóide, leucemias, etc). Infelizmente, uma vez que o DNA foi alterado, pouco pode ser feito para evitar essas doenças.
Um outro efeito prejudicial ao homem (e aos demais seres vivos, tanto vegetais quanto animais) é o acúmulo dos isótopos radioativos em tecidos específicos do corpo; por exemplo, o césio 137 se acumula nos músculos, o iodo 131 tem predileção pela glândula tireóide e o estrôncio 90 se deposita nos ossos. Esse fato pode originar doenças como o já citado câncer, em sua várias formas.
Quanto à conveniência ou não do emprego da energia nuclear no Brasil, os leitores podem se reportar à palestra "Catástrofe natural do Japão, reflexões e ações no Brasil", proferida pelo assessor da presidência da Eletrobrás Eletronuclear, Leonam dos Santos Guimarães, no plenário do Confea em 24 de março de 2011. Para ele, ouvir a expressão “energia nuclear” já causa medo em muitas pessoas. Entretanto, segundo ele, essa é uma das formas mais seguras de provimento de energia elétrica.
Sérgio Oreiro
As partículas subatômicas e os isótopos radioativos são muito perigosos, pois tanto podem se infiltrar no solo, carreados pela água, contaminando o mesmo e os lençóis de água subterrâneos, quanto podem ser levados pelos ventos para locais distantes da usina, sendo trazidos novamente ao solo pelas chuvas, contaminando nossas fontes de água e de alimento mesmo em locais distantes daquele do acidente, dependendo da intensidade do mesmo e da direção dos ventos. Desse modo, um acidente nuclear pode causar a contaminação de toda a cadeia alimentar dos ecossistemas que forem contaminados pela radiação.
Felizmente, o Brasil está no lado oposto do paneta em relação ao Japão e até o momento, recebeu apenas restos dessas partículas, incapazes de prejudicar nossa saúde. Os efeitos da radiação sobre o corpo humano, provenientes de (1), (2) ou (3), dependerão da intensidade da mesma e do tempo de exposição. Uma exposição direta causa queimaduras de 3º grau e morte relativamente rápida. Já nas contaminações menos intensas as pessoas podem não apresentar sintomas imediatos, mas como a radiação altera o DNA de nossas células, tais pessoas podem desenvolver uma série de doenças daí decorrentes, sendo o câncer a mais comum (principalmente de tireóide, leucemias, etc). Infelizmente, uma vez que o DNA foi alterado, pouco pode ser feito para evitar essas doenças.
Um outro efeito prejudicial ao homem (e aos demais seres vivos, tanto vegetais quanto animais) é o acúmulo dos isótopos radioativos em tecidos específicos do corpo; por exemplo, o césio 137 se acumula nos músculos, o iodo 131 tem predileção pela glândula tireóide e o estrôncio 90 se deposita nos ossos. Esse fato pode originar doenças como o já citado câncer, em sua várias formas.
Quanto à conveniência ou não do emprego da energia nuclear no Brasil, os leitores podem se reportar à palestra "Catástrofe natural do Japão, reflexões e ações no Brasil", proferida pelo assessor da presidência da Eletrobrás Eletronuclear, Leonam dos Santos Guimarães, no plenário do Confea em 24 de março de 2011. Para ele, ouvir a expressão “energia nuclear” já causa medo em muitas pessoas. Entretanto, segundo ele, essa é uma das formas mais seguras de provimento de energia elétrica.
Sérgio Oreiro
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segunda-feira, 28 de março de 2011
Racismo: crime e ignorância cientifica
Apesar de todos os avanços da genética terem demonstrado, de forma categórica, que as semelhanças entre os seres humanos são muito maiores do que as diferenças, casos que frequentemente são noticiados pela mídia e outros que às vezes percebo em meu cotidiano, motivaram-me a escrever essas breves linhas. Afinal, a ciência é uma arma poderosa, capaz de lançar raios de luz sobre aqueles que insistem em agir nas trevas, em pleno século XXI.
A miscigenação das “raças” começou no Brasil logo após a chegada da frota de Cabral. A partir de 1500, portugueses começaram a aportar na costa brasileira e, aproveitando-se do costume indígena do “cunhadismo”, tão bem descrito por Darcy Ribeiro em seu livro “O Povo Brasileiro”, tiveram diversas esposas indígenas e uma multidão de filhos. Um pouco mais tarde, a monocultura da cana tornou necessário o tráfico de mão de obra escrava proveniente da África, e os portugueses iniciaram uma intensa miscigenação com mulheres negras, como foi apontado por Gilberto Freyre em “Casa Grande e Senzala”.
Mais tarde, já no Império, cientistas e intelectuais brasileiros, contaminados pela idéia da superioridade da “raça” branca sobre as demais, que prevalecia na Europa de então, convenceram o governo a incentivar a vinda de levas de imigrantes europeus com o intuito de “branquear” a população brasileira. Tais esforços não surtiram o efeito desejado, pois os imigrantes se integraram facilmente aos nossos costumes. Um exemplo marcante é o caso de Adoniran Barbosa, um filho de imigrantes italianos que se tornou um dos maiores sambistas brasileiros.
No final do século XX, o geneticista italiano Luigi Cavalli-Sforza compilou os resultados de um longo e extenso trabalho feito por ele com amostras biológicas de todos os povos da Terra, tendo concluído, em 1995, que a homogeneidade genética de nossa espécie é tão grande que não faz sentido dividir a humanidade em “raças”.
Entre nós, pesquisas detalhadas do geneticista Sérgio Pena e colaboradores, da UFMG, estabeleceram, de forma irrefutável, que cerca de 70% dos brasileiros que se julgam brancos têm ancestrais indígenas ou negros, principalmente em suas linhagens maternas, o que confirma os estudos sociológicos e antropológicos mais antigos de pesquisadores de renome como os já citados Darcy Ribeiro e Gilberto Freyre, que indicaram intensa miscigenação de homens europeus com mulheres daquelas duas etnias.
Portanto, praticar atos de racismo no Brasil não só constitui crime, como revela ignorância em relação à ciência moderna. Em nosso país, a probabilidade de um agressor possuir ancestrais da mesma etnia que ele agride é muito grande.
Sérgio Goulart Oreiro
Adaptado do artigo “Pequeno ensaio sobre os Brancos Brasileiros”, publicado no Blog Ciências e Poemas, no link http://cienciasepoemas.blogspot.com/2011/03/breve-ensaio-sobre-os-brancos.html
A miscigenação das “raças” começou no Brasil logo após a chegada da frota de Cabral. A partir de 1500, portugueses começaram a aportar na costa brasileira e, aproveitando-se do costume indígena do “cunhadismo”, tão bem descrito por Darcy Ribeiro em seu livro “O Povo Brasileiro”, tiveram diversas esposas indígenas e uma multidão de filhos. Um pouco mais tarde, a monocultura da cana tornou necessário o tráfico de mão de obra escrava proveniente da África, e os portugueses iniciaram uma intensa miscigenação com mulheres negras, como foi apontado por Gilberto Freyre em “Casa Grande e Senzala”.
Mais tarde, já no Império, cientistas e intelectuais brasileiros, contaminados pela idéia da superioridade da “raça” branca sobre as demais, que prevalecia na Europa de então, convenceram o governo a incentivar a vinda de levas de imigrantes europeus com o intuito de “branquear” a população brasileira. Tais esforços não surtiram o efeito desejado, pois os imigrantes se integraram facilmente aos nossos costumes. Um exemplo marcante é o caso de Adoniran Barbosa, um filho de imigrantes italianos que se tornou um dos maiores sambistas brasileiros.
No final do século XX, o geneticista italiano Luigi Cavalli-Sforza compilou os resultados de um longo e extenso trabalho feito por ele com amostras biológicas de todos os povos da Terra, tendo concluído, em 1995, que a homogeneidade genética de nossa espécie é tão grande que não faz sentido dividir a humanidade em “raças”.
Entre nós, pesquisas detalhadas do geneticista Sérgio Pena e colaboradores, da UFMG, estabeleceram, de forma irrefutável, que cerca de 70% dos brasileiros que se julgam brancos têm ancestrais indígenas ou negros, principalmente em suas linhagens maternas, o que confirma os estudos sociológicos e antropológicos mais antigos de pesquisadores de renome como os já citados Darcy Ribeiro e Gilberto Freyre, que indicaram intensa miscigenação de homens europeus com mulheres daquelas duas etnias.
Portanto, praticar atos de racismo no Brasil não só constitui crime, como revela ignorância em relação à ciência moderna. Em nosso país, a probabilidade de um agressor possuir ancestrais da mesma etnia que ele agride é muito grande.
Sérgio Goulart Oreiro
Adaptado do artigo “Pequeno ensaio sobre os Brancos Brasileiros”, publicado no Blog Ciências e Poemas, no link http://cienciasepoemas.blogspot.com/2011/03/breve-ensaio-sobre-os-brancos.html
Breve ensaio sobre os brancos brasileiros
Resumo
Ainda que o Censo de 2010 tenha detectado uma ligeira predominância (48,2%) de elementos brancos na população brasileira, estudos históricos, antropológicos e, mais recentemente, genéticos, confirmaram o senso comum de que somos um povo mestiço por excelência. A cuidadosa compilação e análise de documentos históricos revelaram que a quase totalidade dos europeus, notadamente portugueses, que aqui aportaram no período colonial era do sexo masculino. Já no início do século XVI há provas de intensa mestiçagem entre uns poucos indivíduos europeus e numerosas mulheres indígenas, dando início a núcleos populacionais de mestiços (ou mamelucos), o mais importante dos quais foi constituído pelos bandeirantes do atual Estado de São Paulo. Já no final do referido século, teve início o tráfico de escravos negros e, consequentemente, a mistura do branco europeu com mulheres deste novo grupo populacional. Pesquisas recentes de genealogia por DNA confirmam e quantificam com maior precisão o resultado dos estudos dos antropólogos e historiadores; segundo tais pesquisas, a quase totalidade dos “brancos” brasileiros tem como ancestral pelo lado paterno um homem de raça branca, ao passo que as suas linhagens maternas se dividem em proporções quase iguais de européias, indígenas e africanas (33% para cada uma), o que permite afirmar que no Brasil se constituiu um “caldeirão étnico”, forjado em cinco séculos de mestiçagens de homens portugueses com mulheres indígenas e negras, sendo que apenas após o ciclo de migrações européias iniciado em meados do século XIX a contribuição de mulheres caucasianas para a formação do nosso povo se tornou significativa.
Introdução
Nas últimas eleições presidenciais, tornou-se evidente que parte de nossa população, principalmente em São Paulo e nos três estados do sul, tem um pensamento racista. Por causa disso, foi cunhado o termo “elite branca”. Já há alguns anos esse termo é empregado para identificar os eleitores de partidos mais conservadores, nas regiões Sul e em São Paulo. Um exemplo disso é uma frase cunhada pelo sociólogo e professor da UERJ Emir Sader, que escreveu certa vez, em seu blog, “ O eleitor tucano é branco ou se considera branco” (1). Emir Sader tocou no fundo da ferida do racismo: grandes sociólogos e antropólogos brasileiros, como Gilberto Freire e Darcy Ribeiro, autores, respectivamente de “Casa Grande e Senzala” e “O Povo Brasileiro”, repetiram à exaustão a tese da mestiçagem do nosso povo. Isso se explica, segundo eles, porque os portugueses aqui estabeleceram uma colônia de exploração e não de povoamento: o elemento colonizador que vinha para o Brasil colonial era branco e do sexo masculino.
De fato, no começo da colonização, vieram da Europa para o Brasil pouquíssimas mulheres. E os colonos, desde o início, acasalavam-se com as índias, formando vários focos de mamelucos, resultado da miscigenação entre índias e portugueses, franceses ou espanhóis. No final do século XVI, o padre José de Anchieta avaliava a população do Brasil em 57 mil almas, sendo 25 mil brancos da terra (principalmente mestiços de portugueses com índias), 18 mil índios e 14 mil negros (2). "Anchieta, porém só se referia à população incorporada ao empreendimento colonial que ocuparia, naquela época, não mais de 15 mil quilômetros quadrados", escreveu Darcy Ribeiro. Quase a metade da população colonial era branca, mas Darcy Ribeiro, em O Povo Brasileiro, dá as pistas da história genética dos brancos do Brasil colônia, que eram mestiços em sua grande maioria. A partir do final do século XVI o componente negro-africano aumentou cada vez mais, pela intensificação do tráfico de escravos provenientes da África e do uso de escravos na colônia, trazendo muito mais homens do que mulheres, de tal forma que, em alguns locais, a população negra era constituída quase que exclusivamente por homens.
A palavra "raça" em seu sentido atual apareceu na literatura científica em 1775, tendo sido empregada pelo alemão Johann Friedrich Blumenbach, um dos fundadores da Antropologia, para designar grupamentos populacionais diferentes baseados em conceitos inspirados nas teorias evolucionistas (3). Os absurdos praticados em nome dessas diferenças em pleno século XX, no centro da Europa civilizada (por exemplo, a tese ariana dos nazistas), foram tão traumatizantes que o assunto deixou de ser estudado por algum tempo.
O “cunhadismo”
O povo brasileiro surgiu, efetivamente, do cruzamento de uns poucos brancos com multidões de mulheres índias e negras. Um costume dos tupi-guaranis, tão bem descrito por Darcy Ribeiro em O Povo Brasileiro, era o chamado “cunhadismo”. Segundo esse costume, quando chegava um estranho na aldeia, os indígenas davam a ele uma mulher. Com a chegada de elementos brancos isolados na costa brasileira, nos primórdios do século XVI, o cunhadismo se disseminou: para ter acesso às quinquilharias trazidas pelo estranho, os indígenas levavam para ele uma moça de cada aldeia, pois não havia governo geral para os índios, sendo que cada aldeia constituía uma comunidade autônoma.
Quando os homens brancos recebiam essas moças, eles geravam nelas muitos filhos e passavam a ter cunhados, que eram os irmãos delas. Pelo sistema de parentesco classificatório, todos eram cunhados; assim sendo, o branco podia aliciar todos os homens de várias aldeias, para, por exemplo, cortar o pau-brasil e conduzi-lo até um navio.
Darci Ribeiro cita o caso de João Ramalho, chamando-o de fundador da “paulistanidade”: os aborígenes levaram uma índia, deram a João Ramalho e fizeram uma pequena cerimônia. Ramalho nasceu em Vizela, Portugal, em 1493 e morreu em 1580 no Brasil. Partiu de seu país em 1512 em um navio, buscando a terra que diziam ser paradisíaca. O navio em que ele viajava naufragou na costa da então capitania de São Vicente, litoral sul de São Paulo, por volta de 1513. Acolhido pela tribo dos Guaianazes, angariou prestígio junto aos índios com quem passou a viver e casou-se com a filha do Cacique Tibiriça, a índia Bartira, batizada depois com o nome de Izabel Dias (4). Do casamento resultaram nove filhos, que eram dele, mas, pela importância que os índios lhes davam, deveriam ter cada um umas trinta mulheres. Ainda segundo Ribeiro, as descrições de João Ramalho são poucas, mas deixam ver que Santo André era um covil de criminosos. Os jesuítas descrevem isso: cada filho de João Ramalho tinha muitas mulheres e muitos filhos; todos reproduziam em todas, ocasionando um crescimento demográfico sem precedentes no Brasil antes de Cabral aqui ancorar a sua frota. A despeito de seu comportamento considerado muito libertino para a época, João Ramalho é considerado por alguns o fundador do Exército Brasileiro, pois Tomé de Sousa o nomeou capitão da vila de Santo André, no planalto paulista. (4, 5).
Assim, o cunhadismo multiplica rapidamente a população e dá origem a um elemento novo, que os jesuítas chamaram de "mameluco". O filho da índia engravidada por um branco não era europeu nem indígena; era um “mameluco”, termo de origem árabe que significa “escravo que geralmente servia a seus amos como pajem ou criado doméstico, e eventualmente eram usados como soldados pelos califas muçulmanos e pelo Império Otomano para os seus exércitos e que em algumas situações, como no Egito, detiveram o poder” (6). Vemos então algo espantoso do ponto de vista demográfico: Portugal, com apenas um milhão de habitantes na época do descobrimento do Brasil, conseguiu dominar um vasto território nas Américas. Inicialmente, com o cunhadismo; depois, pela ação dos bandeirantes, os quais eram os mamelucos paridos pelas mulheres índias; eles não se identificavam com a mãe, mas falavam o idioma dela. Até 1700 supõe-se que em São Paulo se falava tupi-guarani, ou uma língua mista chamada nheengatu.
Em 1552, em carta ao rei D. João, o padre Manuel da Nóbrega relata a falta de mulheres brancas no país e pede que elas sejam enviadas, para que os homens "casem e vivam [...] apartados dos pecados em que agora vivem" (7). A coroa portuguesa tolerava relacionamentos entre portugueses e índias desde o início da colonização e até passou a estimular ativamente casamentos entre os mesmos por meio de um Alvará de Lei promulgado em 4 de abril de 1755 pelo Marquês do Pombal, que dizia: “Eu, El Rey. Faço saber aos que este meu Alvará de lei virem, que considerando o quanto convém que os meus reaes domínios da America se povoem, e que para este fim póde concorrer muito a communicação com os Índios, por meio de casamentos: sou servido declarar que os meus vassallos deste reino e da America, que casarem com as Índias della, não ficão com infamia alguma, antes se farão dignos da minha real atenção [...]” (Alvará Régio de 4 de abril de 1755) (8).
Acredita-se que a idéia do Marquês de Pombal era povoar o Brasil, garantindo sua ocupação territorial. Mas essa política, bastante liberal para a época, não foi estendida aos africanos. Contudo, sabe-se que, na prática, os relacionamentos entre homens portugueses e mulheres africanas persistiram em níveis bastante elevados, gerando grande número de mestiços (mulatos).
Os índios e os negros trabalhavam duro e a eles era quase sempre negado o direito de ter uma companheira. Assim, inicialmente sem o auxílio da genética, mas pela leitura e interpretação de documentos históricos por nossos historiadores e antropólogos de largo fôlego, como os já citados Gilberto Freyre e Darcy Ribeiro, podemos deduzir que os homens índios e negros escravizados não tiveram papel relevante no povoamento do Brasil. Os descendentes mestiços do cruzamento entre europeus, índias e negras foram aqueles que formaram o nosso povo e constituíram a identidade brasileira até praticamente 1850. Dados citados por Darcy Ribeiro em O Povo Brasileiro mostram que de 1500 até 1850 vieram para o Brasil apenas 500 mil europeus. Um número relativamente pequeno se considerarmos que até esta data foram introduzidos, como escravos, entre 4 a 6 milhões de negros, e que a população indígena original foi estimada em 5 milhões de indivíduos.
Os brancos brasileiros constituem uma “raça” bem definida?
A resposta para esta pergunta é um sonoro “não”. As pesquisas genéticas das últimas décadas fulminaram o próprio conceito de raça. O trabalho realizado pelo italiano Luigi Luca Cavalli-Sforza (9) com 2.000 tribos e comunidades nativas de várias regiões do mundo comprovou que as raças são geneticamente bastante homogêneas. "A cor dos olhos e da pele, as proporções corporais e os tipos de cabelo são vernizes passados sobre uma estrutura biológica idêntica", definiu Cavalli-Sforza em seu livro "História e Geografia dos Genes Humanos", lançado no início de 1995. A partir de uma minuciosa análise nos genes obtidos a partir de amostras de sangue, coletadas de milhares de pessoas de diferentes grupos étnicos ao redor do mundo, Sforza demostrou que certas características, que permitem diferenciar membros de um ou outro grupo humano, não constituem base científica para afirmar que uma população humana pode ser intelectual ou fisicamente superior a alguma outra.
Numa pesquisa realizada com mais de 34 milhões de brasileiros, dos quais quase vinte milhões se declaram brancos, foi perguntada a origem étnica dos participantes de cor ou raça branca. A maior parte apontou origem brasileira (45,53%). 15,72% apontaram origem italiana, 14,50% portuguesa, 6,42% espanhola, 5,51% alemã e 12,32% outras origens, que incluem africana, indígena, judaica e árabe (10). Tais números condizem fortemente com o passado imigratório no Brasil. Entre o final do século XIX e início do século XX, sobretudo após a Abolição da Escravatura, o Estado Brasileiro passou a incentivar a vinda de imigrantes para substituir a mão-de-obra africana. Entre 1870 e 1951, de Portugal e da Itália chegaram números aproximadamente iguais de imigrantes, cerca de 1,5 milhões de italianos e 1,4 milhões de portugueses. Da Espanha chegaram cerca de 650 mil e da Alemanha em torno de 260 mil imigrados (11). Essas cifras refletem as porcentagens das origens declaradas pelos brancos brasileiros na pesquisa acima citada. É notório, porém, que quase metade dos brancos pesquisados declarou ser de origem brasileira. Isto é explicável pelo fato de a imigração portuguesa ser bastante antiga, remontando a mais de quinhentos anos; portanto, muitos brasileiros brancos desconhecem suas origens lusitanas, por já terem suas famílias enraizadas no Brasil há séculos.
Se considerarmos os brancos que se afirmaram de origem brasileira como descendentes remotos de portugueses, 60,03% da população branca do Brasil é de origem portuguesa. Em suma, vivem hoje em dia em Portugal 11 milhões de portugueses e, no Brasil, 26 milhões de pessoas que se consideram etnicamente portuguesas e outras 41 milhões que são, provavelmente, de remota origem lusitana. Observando os muitos milhões de mestiços e negros brasileiros que também possuem antepassados portugueses, é clara a primazia dos portugueses na formação étnica do povo brasileiro. De fato, Lins et al. (2009) analisaram amostras genéticas de 200 pessoas, divididas em cinco grupos de mesmo tamanho, cada um deles oriundo de zonas urbanas das cinco regiões do Brasil (12). As estimativas de ancestralidade predominante encontradas por eles são consistentes com o perfil genético heterogêneo da população brasileira, com uma grande contribuição de ascendência europeia (77,1%), seguido por africano (14,3%) e ameríndia (8,5%). Entretanto, pode-se argumentar sobre esse trabalho que sua base de dados foi muito pequena relativamente à totalidade de nossa população.
Outra revelação importante dos estudos genéticos é que "a contribuição européia deu-se basicamente através de homens, e a ameríndia e africana veio principalmente através de mulheres” (13). A presença de 60% de linhagens maternas ameríndias e africanas em brasileiros brancos é inesperadamente alta e, por isso, tem grande relevância social, dizem os pesquisadores (14). Este fato já havia sido estabelecido por antropólogos brasileiros que explicaram a formação de nosso povo baseando-se no estudo de documentos históricos.
O Iluminismo e o “branqueamento do Brasil”
A partir de 1850, no entanto, há uma alteração na composição das linhagens maternas na população com o início da vinda de grandes continentes europeus, acelerada no final do século XIX e que trouxe, até 1960, cerca de 4 milhões de pessoas, vindos de diferentes países da Europa. Diferentemente dos portugueses dos tempos coloniais, que raramente traziam suas mulheres, os imigrantes modernos vieram com elas, juntamente com seus filhos e filhas formando, pela primeira vez, um grupo numeroso de mulheres européias no conjunto da população brasileira.
Influenciada no cientificismo e no positivismo, as elites brasileiras, entre o final do século XIX e o começo do século XX, acreditavam que o branqueamento era a solução para o desenvolvimento do país. Surgia assim o “racismo científico” (15)
A elite racista do começo do século havia sonhado promover, com a imigração européia, o branqueamento da população. Entretanto, os imigrantes não formaram “guetos” étnicos isolados; ao invés disso, eles se incorporaram à população já existente através de casamentos. Um bom exemplo dessa rápida integração é a biografia de Adoniran Barbosa: filho de imigrantes italianos, ele se tornou um dos maiores cantores e compositores de samba (ritmo musical de raízes africanas) de nossa história musical. O objetivo racista do branqueamento da população brasileira, portanto, não foi alcançado.
No Brasil, o intelectual positivista mais influente foi Benjamin Constant (considerado por muitos o idealizador da República Brasileira), juntamente com Nísia Floresta (a primeira feminista brasileira e discípula direta de Auguste Comte), Miguel Lemos (que dá nome à rua onde moro), Euclides da Cunha e vários outros. Muitos desses pensadores, atuantes no final do Império e no início da República, pelo menos em algum momento de suas vidas, pensaram a miscigenação racial como um problema a ser solucionado. Em maior ou menor grau, para estes intelectuais, a questão étnica era a grande questão nacional. Para alguns, a mistura racial era um obstáculo ao desenvolvimento econômico e social (16). Era preciso, pois, promover a referida campanha de “branquemento do Brasil” (17). O auge desta campanha ocorreu exatamente no momento em que o trabalhador escravo (negro) é descartado e substituído pelo assalariado. Aí se coloca o dilema do passado com o futuro, do atraso com o progresso e do negro com o branco, como trabalhadores. O primeiro, para intelectuais como Maciel da Costa e José Bonifácio representaria a animalidade, o atraso, o passado, enquanto o branco (europeu) era o símbolo do trabalho ordenado, pacífico e progressista. Desta forma, para se modernizar e desenvolver o Brasil, só havia um caminho para esses intelectuais: colocar no lugar do negro o trabalhador imigrante branco, descartar do país essa carga passiva, exótica, fetichista e perigosa e substituí-la por uma população cristã e européia.
Nos escritos de Hyppolito da Costa no Correio Braziliense (18), as qualidades dos imigrantes europeus são enaltecidas. Em tais escritos, podemos ver a idéia de branqueamento da população associada às mudanças agrícolas decorrentes de uma imigração européia. Sob o ponto de vista do citado autor, a imigração européia daria uma série de vantagens ao Brasil, seja pelo aspecto do aprimoramento da agricultura, com a introdução de novas espécies de plantas e pela adoção de modernas técnicas agrícolas, seja pelo aprimoramento da “raça” através da introdução de europeus, de preferência do Norte da Europa e da Alemanha, Holanda, Itália, Espanha e Irlanda. Além de propiciar o branqueamento da população, também traria o “aprimoramento moral” tendo em vista sua “superioridade moral” em relação aos habitantes do país, quase todos de origem não européia ou mestiça, vivendo quase que isoladamente há três séculos. As repercussões da imigração européia também seriam sentidas em outros ramos da economia, como na indústria, praticamente inexistente no Brasil Colonial.
Digno de nota é o personagem “Jeca Tatu”, criado por Monteiro Lobato, o qual era “uma espécie de homem preguiçoso, seminômade, inadaptável à civilização, mas que vive na penumbra das zonas fronteiriças à civilização. À medida que o progresso vem chegando com a via férrea, o italiano, o arado, a valorização da propriedade, vai ele se refugiando no silêncio, como o seu cachorro e o seu pilão, de modo a sempre conservar-se fronteiriço, mudo e sorna. Encoscorado numa rotina de pedra, recua para não adaptar-se” (19). Nessa descrição, vemos que o positivista Lobato contrapõe dois universos, o do semicivilizado caboclo, representado pelo personagem “Jeca Tatu”, e o do imigrante, na figura do italiano trabalhador e progressista. Mas, para fazermos justiça a Lobato, devemos mencionar que ele achava necessário alertar e educar o povo, principal vítima das doenças tropicais decorrentes da falta de saneamento. Alguns anos mais tarde, ele escreveu “Jeca Tatu - a ressurreição”. Esse conto, mais conhecido como Jeca Tatuzinho, serviu de inspiração para uma história em quadrinhos bastante popular, que foi divulgada em todo país através do Almanaque do Biotônico Fontoura. Jeca, considerado preguiçoso, bêbado e idiota por todos, descobre que sofre de amarelão, nome popular para uma verminose conhecida cientificamente por ancilostomíase. No final do conto, o caboclo se trata e torna-se um próspero fazendeiro (20).
Estudos genéticos confirmam os achados históricos e sociológicos
A História, a Antropologia, a dinâmica populacional e – em nossos dias – a genética, desmentiram e jogaram uma pá de cal nas pretensões “embranquecedoras” de nossos intelectuais iluministas, mostrando que o resultado da mistura de diferentes povos em nosso país seguiu – e segue – um caminho diferente e oposto ao sonhado pelo racismo das classes dominantes, tanto as da época do Império como as dos dias de hoje.
Em 1994, uma pesquisa conduzida pelo químico Marcos Palatnick, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, calculou a taxa de miscigenação dos cariocas, concluindo esse povo estava se tornando uniformemente moreno. Sua conclusão era baseada no resultado de 15 anos de estudos com marcadores genéticos, revelando que os cariocas têm genes europeus e africanos: os de pele escura tem 2/3 de herança genética africana; os mulatos, meio a meio; e os de pele clara, 1/3 (21). No Brasil, o geneticista Sérgio Pena, da UFMG, foi um dos pioneiros nas análises de DNA aplicadas às origens geográficas da população brasileira. Os resultados da pesquisa de Palatnik foram confirmados pelos estudos de Pena, que os estendeu para todo o país,na pesquisa divulgada pela revista Ciência Hoje, em abril de 2000, de autoria da equipe de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais, coordenada por Sérgio Pena (22). O título da pesquisa é Projeto Genoma Humano. Os resultados deste projeto demonstram que, entre a população brasileira que se autoconsidera branca, aproximadamente 33% têm genes que provam sua ascendência indígena, outros 33% sua ascendência negra, e 33% têm ascendência branca. A contribuição européia se deu principalmente através dos homens, e a indígena e africana, através das mulheres. Os 30% de linhagens maternas brancas concentram-se nas regiões Sul e Sudeste, onde a imigração européia dos séculos XIX e XX foi mais intensa. Em (23) podem ser acessados vários artigos científicos sobre a Genealogia por DNA de autoria do Prof. Dr. Sergio D.J. Pena e sua equipe.
A seguir, apresento um breve resumo do uso do DNA para rastrear a ancestralidade dos indivíduos em termos geográficos, resumo esse baseado nos trabalhos contidos no site acima mencionado (23): existem vários tipos de polimorfismos genéticos em nível do DNA, classificados de acordo com a sua natureza molecular e localização no genoma humano. Aqueles presentes em cromossomos autossômicos configuram-se como ótimos marcadores de individualidade. Podem também ser úteis como marcadores informativos de ancestralidade (MIAs), desde que a diferença nas freqüências alélicas entre duas populações supostamente parentais seja grande. Já os polimorfismos uniparentais maternos (DNA mitocondrial) e paternos (determinadas regiões do cromossomo sexual Y) caracterizam-se por serem ótimos marcadores de linhagens, pois não há trocas de genes entre segmentos genômicos. Desta forma, os blocos de genes transmitidos às gerações seguintes permanecem inalterados nas linhagens paternas e maternas até que ocorra uma mutação, a qual é um evento raro. As mutações no DNA que ocorreram após a dispersão geográfica do homem moderno geraram variações que podem servir como marcadores geográficos por serem específicas de certas regiões do mundo. Deve ser salientado, ainda, que o DNA mitocondrial (mtDNA) e o cromossomo Y fornecem informações complementares que podem alcançar dezenas de gerações no passado, o que permite resgatar a história de um povo por meio das migrações realizadas pelas mulheres e homens, respectivamente. Quanto mais antigo for um agrupamento humano, maior será o número de mutações em seu genoma. Contudo, é importante lembrar que o mtDNA constitui uma parcela muito pequena da contribuição genética global dos antepassados de um indivíduo, cujo número cresce em progressão geométrica à medida em que caminhamos para o passado (ou seja, cada um de nós possui quatro avós, oito bisavós, dezesseis trisavós e assim por diante). Os estudos com o mtDNA revelam, dessa forma, informações sobre uma única antepassada e não sobre as demais. Analogamente, os polimorfismos do cromossomo Y fornecem informações sobre um único antepassado na linhagem masculina.
A interpretação dos resultados dos estudos recentes de Sérgio Pena e colaboradores leva à conclusão, já detectada por Palatnic e Lins et al. (2009), acima citados, de que a ascendência européia domina na população brasileira como um todo, embora tal população seja majoritariamente mestiça. 85% dos negros brasileiros têm uma ancestral africana, mas as linhagens paternas africanas estão representadas em apenas 47% deles – o restante tem ancestrais europeus em sua linhagem paterna (24).
Esse fato é condizente com a História, que mostra que muitos grupos indígenas foram massacrados pelos colonizadores, e muitos dos escravos africanos, como já vimos, não puderam se reproduzir, seja porque não havia mulheres disponíveis para eles, seja porque sua expectativa de vida era muito baixa. O estudo de Lins et al. (2009), assim como os demais, dão uma visão geral da ancestralidade do povo brasileiro. Nossa população é muito heterogênea, dada a dimensão do país, a complexidade do povoamento e das ondas migratórias, etc. Adicionalmente, tanto o fenótipo quanto a ancestralidade variam muito de indivíduo para indivíduo, como em outros países da América Latina.
Se parece surpreendente, por exemplo, o fato de que uma pessoa com biótipo africano ter uma ascendência predominantemente européia, é preciso levar em conta o fato de que, até onde se sabe, são poucas dezenas de genes (dentre os 20 mil estimados para o genoma humano como um todo) que coordenam as diferenças de pele, cabelos e olhos. Como escreveu Gilberto Freyre em Casa-Grande e Senzala: "todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo louro, traz na alma, quando não na alma e no corpo, a sombra, ou pelo menos a pinta, do indígena e do negro”.
No Brasil, tanto um indivíduo pode ser louro de olhos azuis e ter sua ancestralidade predominantemente africana como pode ocorrer o oposto (por exemplo, o cantor Neguinho da Beija Flor, de fenótipo negro, de acordo com uma análise do Laboratório Gene, coordenado por Sérgio Pena (UFMG), têm 67,1% dos genes com origem na Europa e apenas 31,5%, na África (25).
Considerações Finais
Os estudos filogeográficos, históricos e antropológicos efetuados em brasileiros “brancos” revelaram que a imensa maioria das linhagens paternas é européia, enquanto a maioria das linhagens maternas (mais de 60%) é indígena ou africana. Evidencia-se, assim, um padrão de reprodução muito conspícuo (homem europeu com mulheres indígenas e africanas), o qual está de acordo com tudo o que foi escrito por nossos historiadores e antropólogos sobre o povoamento pós-descobrimento do Brasil.
A elite racista do começo do século havia sonhado promover, com a imigração européia, o branqueamento da população. Entretanto, como os cientistas da UFMG mostraram, a integração dos imigrantes à população brasileira aumentou enormemente o número dos mestiços, muitos dos quais, à primeira vista, aparentam ser brancos e como tal são recenseados pelo IBGE. De acordo com esse instituto, a população brasileira assim foi dividida pelo Censo de 2010: os brancos representam 48,2% da mesma; os pardos, 44,2%; pretos,6,9% e amarelos e indígenas somam 0,7% (26).
Composição étnica do Povo Brasileiro segundo Censo de 2010 do PNAD/IBGE (26)
Ao contrário das previsões racistas, não foi o branco – ou qualquer outro contingente – que prevaleceu em nosso fenótipo médio, mas todos contribuíram para formar um povo novo – o brasileiro – cuja pele predominantemente morena deriva justamente da mistura de etnias que aqui se deu, através dos séculos. Os números do IBGE, que apontam uma ligeira prevalência de indivíduos brancos, devem ser tomados como aproximações, uma vez que a etnia é estabelecida a partir das respostas dadas à pergunta do recenseador (27).
A visão do Brasil como um "caldeirão racial" constitui o elemento predominante da formação nacional e mobilizou alguns dos mais importantes estudiosos no campo da sociologia e da antropologia. Gilberto Freyre foi pioneiro na separação entre "raça" e "cultura" e também o primeiro a destacar a miscigenação como ponto positivo. Em 500 anos de História, os brasileiros construíram nos trópicos um país de vasta e variada cultura. O Brasil é uma potência emergente e atualmente é a oitava maior economia do mundo, com possibilidades de ser a quinta maior economia do planeta no ano de 2030 (28); o povo brasileiro, com todas as dificuldades oriundas das diferenças de renda e de educação, aprende rápido e exibe capacidade incomum de adaptação e superação das adversidades. Essa é uma herança positiva da miscigenação que muitos pensadores da atualidade destacam, numa visão radicalmente diferente da que tinham as correntes intelectuais dominantes no Império, no início da República e até das minorias racistas atuais, as quais só vêem defeitos naquilo que é uma de nossas grandes virtudes como nação: a fusão harmoniosa de diferentes etnias.
Este pequeno ensaio pode ser concluído com as palavras de Darcy Ribeiro, às quais os estudos filogenéticos deram sólido embasamento científico: “o Povo Brasileiro formou-se a partir do cruzamento de uns poucos homens brancos com multidões de mulheres índias e negras”.
Sérgio Goulart Oreiro, D. Sc.
Referências bibliográficas:
1)http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=525
2) http://ordembrasilica.vilabol.uol.com.br/geneticabrasileiro.htm
3) http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/JohaFriB.html
4) http://www2.santoandre.sp.gov.br/news/1573/44
5) http://www.coladaweb.com/biografias/joao-ramalho
6) http://pt.wikipedia.org/wiki/Mamelucos
7 ) http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142004000100004.
8) http://need.unemat.br/4_forum/artigos/ewerton.pdf
9) http://www.wook.pt/authors/detail/id/5519
10) http://rius.com.br/sociedade-e-cultura/8062-a-definicao-de-uma-qpessoa-brancaq-difere-de-acordo-com-o-contexto-geografico-e-historico
11) http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/povoamento/tabelas/imigracao_nacionalidade.htm
12) Lins et al. (2009): Genetic composition of Brazilian population samples based on a set of twenty-eight ancestry informative SNPs
American Journal of Human Biology doi:10.1002/ajhb.20976
13)http://grabois.org.br/portal/cdm/revista.int.php?id_sessao=50&id_publicacao=161&id_indice=1123
14) http://www.laboratoriogene.com.br/geneImprensa/peNaTaba.htm
15) Maio, M. C. e Santos, R. V. (1998) (orgs.) Raça, Ciência e Sociedade. Rio de Janeiro: Fiocruz.
16) http://www.outrostempos.uema.br/curso/estado_poder/30.pdf
17) http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-59702008000100014&script=sci_arttext
18) http://www.feth.ggf.br/migra%C3%A7%C3%A3o.htm
19) http://www.uel.br/grupo-estudo/processoscivilizadores/portugues/sitesanais/anas8/artigos/CarlosRenatoCarola.pdf
20) http://www.fiocruz.br/ccs/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=20&sid=5
21) www.inteligenciacoletiva.com.br/culturanegra.doc
22) http://www.laboratoriogene.info/Cientificos/retrato.pdf
23) http://www.laboratoriogene.com.br/?area=genealogiaArtigos
24) http://revistapesquisa.fapesp.br/?art=3193&bd=1&pg=3&lg=
25) http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u300314.shtml
26)http://noticias.uol.com.br/especiais/pnad/2010/ultimas-noticias/2010/09/08/cresce-proporcao-de-pardos-e-pretos-no-pais-brancos-amarelos-e-indigenas-perdem-espaco.jhtm
27)http://www.censo2010.ibge.gov.br/download/questionarios/censo2010_amostra.pdf
28)http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL1458606-9356,00-ESTUDO+APONTA+O+BRASIL+COMO+A+ECONOMIA+MUNDIAL+EM.html
Ribeiro, D (1995): O Povo Brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras.
Freire, G. (1933): Casa Grande e Senzala: formação da família brasileira sob o regime de economia patriarcal. Rio de Janeiro: Maia & Schmidt, 517p.
Ainda que o Censo de 2010 tenha detectado uma ligeira predominância (48,2%) de elementos brancos na população brasileira, estudos históricos, antropológicos e, mais recentemente, genéticos, confirmaram o senso comum de que somos um povo mestiço por excelência. A cuidadosa compilação e análise de documentos históricos revelaram que a quase totalidade dos europeus, notadamente portugueses, que aqui aportaram no período colonial era do sexo masculino. Já no início do século XVI há provas de intensa mestiçagem entre uns poucos indivíduos europeus e numerosas mulheres indígenas, dando início a núcleos populacionais de mestiços (ou mamelucos), o mais importante dos quais foi constituído pelos bandeirantes do atual Estado de São Paulo. Já no final do referido século, teve início o tráfico de escravos negros e, consequentemente, a mistura do branco europeu com mulheres deste novo grupo populacional. Pesquisas recentes de genealogia por DNA confirmam e quantificam com maior precisão o resultado dos estudos dos antropólogos e historiadores; segundo tais pesquisas, a quase totalidade dos “brancos” brasileiros tem como ancestral pelo lado paterno um homem de raça branca, ao passo que as suas linhagens maternas se dividem em proporções quase iguais de européias, indígenas e africanas (33% para cada uma), o que permite afirmar que no Brasil se constituiu um “caldeirão étnico”, forjado em cinco séculos de mestiçagens de homens portugueses com mulheres indígenas e negras, sendo que apenas após o ciclo de migrações européias iniciado em meados do século XIX a contribuição de mulheres caucasianas para a formação do nosso povo se tornou significativa.
Introdução
Nas últimas eleições presidenciais, tornou-se evidente que parte de nossa população, principalmente em São Paulo e nos três estados do sul, tem um pensamento racista. Por causa disso, foi cunhado o termo “elite branca”. Já há alguns anos esse termo é empregado para identificar os eleitores de partidos mais conservadores, nas regiões Sul e em São Paulo. Um exemplo disso é uma frase cunhada pelo sociólogo e professor da UERJ Emir Sader, que escreveu certa vez, em seu blog, “ O eleitor tucano é branco ou se considera branco” (1). Emir Sader tocou no fundo da ferida do racismo: grandes sociólogos e antropólogos brasileiros, como Gilberto Freire e Darcy Ribeiro, autores, respectivamente de “Casa Grande e Senzala” e “O Povo Brasileiro”, repetiram à exaustão a tese da mestiçagem do nosso povo. Isso se explica, segundo eles, porque os portugueses aqui estabeleceram uma colônia de exploração e não de povoamento: o elemento colonizador que vinha para o Brasil colonial era branco e do sexo masculino.
De fato, no começo da colonização, vieram da Europa para o Brasil pouquíssimas mulheres. E os colonos, desde o início, acasalavam-se com as índias, formando vários focos de mamelucos, resultado da miscigenação entre índias e portugueses, franceses ou espanhóis. No final do século XVI, o padre José de Anchieta avaliava a população do Brasil em 57 mil almas, sendo 25 mil brancos da terra (principalmente mestiços de portugueses com índias), 18 mil índios e 14 mil negros (2). "Anchieta, porém só se referia à população incorporada ao empreendimento colonial que ocuparia, naquela época, não mais de 15 mil quilômetros quadrados", escreveu Darcy Ribeiro. Quase a metade da população colonial era branca, mas Darcy Ribeiro, em O Povo Brasileiro, dá as pistas da história genética dos brancos do Brasil colônia, que eram mestiços em sua grande maioria. A partir do final do século XVI o componente negro-africano aumentou cada vez mais, pela intensificação do tráfico de escravos provenientes da África e do uso de escravos na colônia, trazendo muito mais homens do que mulheres, de tal forma que, em alguns locais, a população negra era constituída quase que exclusivamente por homens.
A palavra "raça" em seu sentido atual apareceu na literatura científica em 1775, tendo sido empregada pelo alemão Johann Friedrich Blumenbach, um dos fundadores da Antropologia, para designar grupamentos populacionais diferentes baseados em conceitos inspirados nas teorias evolucionistas (3). Os absurdos praticados em nome dessas diferenças em pleno século XX, no centro da Europa civilizada (por exemplo, a tese ariana dos nazistas), foram tão traumatizantes que o assunto deixou de ser estudado por algum tempo.
O “cunhadismo”
O povo brasileiro surgiu, efetivamente, do cruzamento de uns poucos brancos com multidões de mulheres índias e negras. Um costume dos tupi-guaranis, tão bem descrito por Darcy Ribeiro em O Povo Brasileiro, era o chamado “cunhadismo”. Segundo esse costume, quando chegava um estranho na aldeia, os indígenas davam a ele uma mulher. Com a chegada de elementos brancos isolados na costa brasileira, nos primórdios do século XVI, o cunhadismo se disseminou: para ter acesso às quinquilharias trazidas pelo estranho, os indígenas levavam para ele uma moça de cada aldeia, pois não havia governo geral para os índios, sendo que cada aldeia constituía uma comunidade autônoma.
Quando os homens brancos recebiam essas moças, eles geravam nelas muitos filhos e passavam a ter cunhados, que eram os irmãos delas. Pelo sistema de parentesco classificatório, todos eram cunhados; assim sendo, o branco podia aliciar todos os homens de várias aldeias, para, por exemplo, cortar o pau-brasil e conduzi-lo até um navio.
Darci Ribeiro cita o caso de João Ramalho, chamando-o de fundador da “paulistanidade”: os aborígenes levaram uma índia, deram a João Ramalho e fizeram uma pequena cerimônia. Ramalho nasceu em Vizela, Portugal, em 1493 e morreu em 1580 no Brasil. Partiu de seu país em 1512 em um navio, buscando a terra que diziam ser paradisíaca. O navio em que ele viajava naufragou na costa da então capitania de São Vicente, litoral sul de São Paulo, por volta de 1513. Acolhido pela tribo dos Guaianazes, angariou prestígio junto aos índios com quem passou a viver e casou-se com a filha do Cacique Tibiriça, a índia Bartira, batizada depois com o nome de Izabel Dias (4). Do casamento resultaram nove filhos, que eram dele, mas, pela importância que os índios lhes davam, deveriam ter cada um umas trinta mulheres. Ainda segundo Ribeiro, as descrições de João Ramalho são poucas, mas deixam ver que Santo André era um covil de criminosos. Os jesuítas descrevem isso: cada filho de João Ramalho tinha muitas mulheres e muitos filhos; todos reproduziam em todas, ocasionando um crescimento demográfico sem precedentes no Brasil antes de Cabral aqui ancorar a sua frota. A despeito de seu comportamento considerado muito libertino para a época, João Ramalho é considerado por alguns o fundador do Exército Brasileiro, pois Tomé de Sousa o nomeou capitão da vila de Santo André, no planalto paulista. (4, 5).
Assim, o cunhadismo multiplica rapidamente a população e dá origem a um elemento novo, que os jesuítas chamaram de "mameluco". O filho da índia engravidada por um branco não era europeu nem indígena; era um “mameluco”, termo de origem árabe que significa “escravo que geralmente servia a seus amos como pajem ou criado doméstico, e eventualmente eram usados como soldados pelos califas muçulmanos e pelo Império Otomano para os seus exércitos e que em algumas situações, como no Egito, detiveram o poder” (6). Vemos então algo espantoso do ponto de vista demográfico: Portugal, com apenas um milhão de habitantes na época do descobrimento do Brasil, conseguiu dominar um vasto território nas Américas. Inicialmente, com o cunhadismo; depois, pela ação dos bandeirantes, os quais eram os mamelucos paridos pelas mulheres índias; eles não se identificavam com a mãe, mas falavam o idioma dela. Até 1700 supõe-se que em São Paulo se falava tupi-guarani, ou uma língua mista chamada nheengatu.
Em 1552, em carta ao rei D. João, o padre Manuel da Nóbrega relata a falta de mulheres brancas no país e pede que elas sejam enviadas, para que os homens "casem e vivam [...] apartados dos pecados em que agora vivem" (7). A coroa portuguesa tolerava relacionamentos entre portugueses e índias desde o início da colonização e até passou a estimular ativamente casamentos entre os mesmos por meio de um Alvará de Lei promulgado em 4 de abril de 1755 pelo Marquês do Pombal, que dizia: “Eu, El Rey. Faço saber aos que este meu Alvará de lei virem, que considerando o quanto convém que os meus reaes domínios da America se povoem, e que para este fim póde concorrer muito a communicação com os Índios, por meio de casamentos: sou servido declarar que os meus vassallos deste reino e da America, que casarem com as Índias della, não ficão com infamia alguma, antes se farão dignos da minha real atenção [...]” (Alvará Régio de 4 de abril de 1755) (8).
Acredita-se que a idéia do Marquês de Pombal era povoar o Brasil, garantindo sua ocupação territorial. Mas essa política, bastante liberal para a época, não foi estendida aos africanos. Contudo, sabe-se que, na prática, os relacionamentos entre homens portugueses e mulheres africanas persistiram em níveis bastante elevados, gerando grande número de mestiços (mulatos).
Os índios e os negros trabalhavam duro e a eles era quase sempre negado o direito de ter uma companheira. Assim, inicialmente sem o auxílio da genética, mas pela leitura e interpretação de documentos históricos por nossos historiadores e antropólogos de largo fôlego, como os já citados Gilberto Freyre e Darcy Ribeiro, podemos deduzir que os homens índios e negros escravizados não tiveram papel relevante no povoamento do Brasil. Os descendentes mestiços do cruzamento entre europeus, índias e negras foram aqueles que formaram o nosso povo e constituíram a identidade brasileira até praticamente 1850. Dados citados por Darcy Ribeiro em O Povo Brasileiro mostram que de 1500 até 1850 vieram para o Brasil apenas 500 mil europeus. Um número relativamente pequeno se considerarmos que até esta data foram introduzidos, como escravos, entre 4 a 6 milhões de negros, e que a população indígena original foi estimada em 5 milhões de indivíduos.
Os brancos brasileiros constituem uma “raça” bem definida?
A resposta para esta pergunta é um sonoro “não”. As pesquisas genéticas das últimas décadas fulminaram o próprio conceito de raça. O trabalho realizado pelo italiano Luigi Luca Cavalli-Sforza (9) com 2.000 tribos e comunidades nativas de várias regiões do mundo comprovou que as raças são geneticamente bastante homogêneas. "A cor dos olhos e da pele, as proporções corporais e os tipos de cabelo são vernizes passados sobre uma estrutura biológica idêntica", definiu Cavalli-Sforza em seu livro "História e Geografia dos Genes Humanos", lançado no início de 1995. A partir de uma minuciosa análise nos genes obtidos a partir de amostras de sangue, coletadas de milhares de pessoas de diferentes grupos étnicos ao redor do mundo, Sforza demostrou que certas características, que permitem diferenciar membros de um ou outro grupo humano, não constituem base científica para afirmar que uma população humana pode ser intelectual ou fisicamente superior a alguma outra.
Numa pesquisa realizada com mais de 34 milhões de brasileiros, dos quais quase vinte milhões se declaram brancos, foi perguntada a origem étnica dos participantes de cor ou raça branca. A maior parte apontou origem brasileira (45,53%). 15,72% apontaram origem italiana, 14,50% portuguesa, 6,42% espanhola, 5,51% alemã e 12,32% outras origens, que incluem africana, indígena, judaica e árabe (10). Tais números condizem fortemente com o passado imigratório no Brasil. Entre o final do século XIX e início do século XX, sobretudo após a Abolição da Escravatura, o Estado Brasileiro passou a incentivar a vinda de imigrantes para substituir a mão-de-obra africana. Entre 1870 e 1951, de Portugal e da Itália chegaram números aproximadamente iguais de imigrantes, cerca de 1,5 milhões de italianos e 1,4 milhões de portugueses. Da Espanha chegaram cerca de 650 mil e da Alemanha em torno de 260 mil imigrados (11). Essas cifras refletem as porcentagens das origens declaradas pelos brancos brasileiros na pesquisa acima citada. É notório, porém, que quase metade dos brancos pesquisados declarou ser de origem brasileira. Isto é explicável pelo fato de a imigração portuguesa ser bastante antiga, remontando a mais de quinhentos anos; portanto, muitos brasileiros brancos desconhecem suas origens lusitanas, por já terem suas famílias enraizadas no Brasil há séculos.
Se considerarmos os brancos que se afirmaram de origem brasileira como descendentes remotos de portugueses, 60,03% da população branca do Brasil é de origem portuguesa. Em suma, vivem hoje em dia em Portugal 11 milhões de portugueses e, no Brasil, 26 milhões de pessoas que se consideram etnicamente portuguesas e outras 41 milhões que são, provavelmente, de remota origem lusitana. Observando os muitos milhões de mestiços e negros brasileiros que também possuem antepassados portugueses, é clara a primazia dos portugueses na formação étnica do povo brasileiro. De fato, Lins et al. (2009) analisaram amostras genéticas de 200 pessoas, divididas em cinco grupos de mesmo tamanho, cada um deles oriundo de zonas urbanas das cinco regiões do Brasil (12). As estimativas de ancestralidade predominante encontradas por eles são consistentes com o perfil genético heterogêneo da população brasileira, com uma grande contribuição de ascendência europeia (77,1%), seguido por africano (14,3%) e ameríndia (8,5%). Entretanto, pode-se argumentar sobre esse trabalho que sua base de dados foi muito pequena relativamente à totalidade de nossa população.
Outra revelação importante dos estudos genéticos é que "a contribuição européia deu-se basicamente através de homens, e a ameríndia e africana veio principalmente através de mulheres” (13). A presença de 60% de linhagens maternas ameríndias e africanas em brasileiros brancos é inesperadamente alta e, por isso, tem grande relevância social, dizem os pesquisadores (14). Este fato já havia sido estabelecido por antropólogos brasileiros que explicaram a formação de nosso povo baseando-se no estudo de documentos históricos.
O Iluminismo e o “branqueamento do Brasil”
A partir de 1850, no entanto, há uma alteração na composição das linhagens maternas na população com o início da vinda de grandes continentes europeus, acelerada no final do século XIX e que trouxe, até 1960, cerca de 4 milhões de pessoas, vindos de diferentes países da Europa. Diferentemente dos portugueses dos tempos coloniais, que raramente traziam suas mulheres, os imigrantes modernos vieram com elas, juntamente com seus filhos e filhas formando, pela primeira vez, um grupo numeroso de mulheres européias no conjunto da população brasileira.
Influenciada no cientificismo e no positivismo, as elites brasileiras, entre o final do século XIX e o começo do século XX, acreditavam que o branqueamento era a solução para o desenvolvimento do país. Surgia assim o “racismo científico” (15)
A elite racista do começo do século havia sonhado promover, com a imigração européia, o branqueamento da população. Entretanto, os imigrantes não formaram “guetos” étnicos isolados; ao invés disso, eles se incorporaram à população já existente através de casamentos. Um bom exemplo dessa rápida integração é a biografia de Adoniran Barbosa: filho de imigrantes italianos, ele se tornou um dos maiores cantores e compositores de samba (ritmo musical de raízes africanas) de nossa história musical. O objetivo racista do branqueamento da população brasileira, portanto, não foi alcançado.
No Brasil, o intelectual positivista mais influente foi Benjamin Constant (considerado por muitos o idealizador da República Brasileira), juntamente com Nísia Floresta (a primeira feminista brasileira e discípula direta de Auguste Comte), Miguel Lemos (que dá nome à rua onde moro), Euclides da Cunha e vários outros. Muitos desses pensadores, atuantes no final do Império e no início da República, pelo menos em algum momento de suas vidas, pensaram a miscigenação racial como um problema a ser solucionado. Em maior ou menor grau, para estes intelectuais, a questão étnica era a grande questão nacional. Para alguns, a mistura racial era um obstáculo ao desenvolvimento econômico e social (16). Era preciso, pois, promover a referida campanha de “branquemento do Brasil” (17). O auge desta campanha ocorreu exatamente no momento em que o trabalhador escravo (negro) é descartado e substituído pelo assalariado. Aí se coloca o dilema do passado com o futuro, do atraso com o progresso e do negro com o branco, como trabalhadores. O primeiro, para intelectuais como Maciel da Costa e José Bonifácio representaria a animalidade, o atraso, o passado, enquanto o branco (europeu) era o símbolo do trabalho ordenado, pacífico e progressista. Desta forma, para se modernizar e desenvolver o Brasil, só havia um caminho para esses intelectuais: colocar no lugar do negro o trabalhador imigrante branco, descartar do país essa carga passiva, exótica, fetichista e perigosa e substituí-la por uma população cristã e européia.
Nos escritos de Hyppolito da Costa no Correio Braziliense (18), as qualidades dos imigrantes europeus são enaltecidas. Em tais escritos, podemos ver a idéia de branqueamento da população associada às mudanças agrícolas decorrentes de uma imigração européia. Sob o ponto de vista do citado autor, a imigração européia daria uma série de vantagens ao Brasil, seja pelo aspecto do aprimoramento da agricultura, com a introdução de novas espécies de plantas e pela adoção de modernas técnicas agrícolas, seja pelo aprimoramento da “raça” através da introdução de europeus, de preferência do Norte da Europa e da Alemanha, Holanda, Itália, Espanha e Irlanda. Além de propiciar o branqueamento da população, também traria o “aprimoramento moral” tendo em vista sua “superioridade moral” em relação aos habitantes do país, quase todos de origem não européia ou mestiça, vivendo quase que isoladamente há três séculos. As repercussões da imigração européia também seriam sentidas em outros ramos da economia, como na indústria, praticamente inexistente no Brasil Colonial.
Digno de nota é o personagem “Jeca Tatu”, criado por Monteiro Lobato, o qual era “uma espécie de homem preguiçoso, seminômade, inadaptável à civilização, mas que vive na penumbra das zonas fronteiriças à civilização. À medida que o progresso vem chegando com a via férrea, o italiano, o arado, a valorização da propriedade, vai ele se refugiando no silêncio, como o seu cachorro e o seu pilão, de modo a sempre conservar-se fronteiriço, mudo e sorna. Encoscorado numa rotina de pedra, recua para não adaptar-se” (19). Nessa descrição, vemos que o positivista Lobato contrapõe dois universos, o do semicivilizado caboclo, representado pelo personagem “Jeca Tatu”, e o do imigrante, na figura do italiano trabalhador e progressista. Mas, para fazermos justiça a Lobato, devemos mencionar que ele achava necessário alertar e educar o povo, principal vítima das doenças tropicais decorrentes da falta de saneamento. Alguns anos mais tarde, ele escreveu “Jeca Tatu - a ressurreição”. Esse conto, mais conhecido como Jeca Tatuzinho, serviu de inspiração para uma história em quadrinhos bastante popular, que foi divulgada em todo país através do Almanaque do Biotônico Fontoura. Jeca, considerado preguiçoso, bêbado e idiota por todos, descobre que sofre de amarelão, nome popular para uma verminose conhecida cientificamente por ancilostomíase. No final do conto, o caboclo se trata e torna-se um próspero fazendeiro (20).
Estudos genéticos confirmam os achados históricos e sociológicos
A História, a Antropologia, a dinâmica populacional e – em nossos dias – a genética, desmentiram e jogaram uma pá de cal nas pretensões “embranquecedoras” de nossos intelectuais iluministas, mostrando que o resultado da mistura de diferentes povos em nosso país seguiu – e segue – um caminho diferente e oposto ao sonhado pelo racismo das classes dominantes, tanto as da época do Império como as dos dias de hoje.
Em 1994, uma pesquisa conduzida pelo químico Marcos Palatnick, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, calculou a taxa de miscigenação dos cariocas, concluindo esse povo estava se tornando uniformemente moreno. Sua conclusão era baseada no resultado de 15 anos de estudos com marcadores genéticos, revelando que os cariocas têm genes europeus e africanos: os de pele escura tem 2/3 de herança genética africana; os mulatos, meio a meio; e os de pele clara, 1/3 (21). No Brasil, o geneticista Sérgio Pena, da UFMG, foi um dos pioneiros nas análises de DNA aplicadas às origens geográficas da população brasileira. Os resultados da pesquisa de Palatnik foram confirmados pelos estudos de Pena, que os estendeu para todo o país,na pesquisa divulgada pela revista Ciência Hoje, em abril de 2000, de autoria da equipe de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais, coordenada por Sérgio Pena (22). O título da pesquisa é Projeto Genoma Humano. Os resultados deste projeto demonstram que, entre a população brasileira que se autoconsidera branca, aproximadamente 33% têm genes que provam sua ascendência indígena, outros 33% sua ascendência negra, e 33% têm ascendência branca. A contribuição européia se deu principalmente através dos homens, e a indígena e africana, através das mulheres. Os 30% de linhagens maternas brancas concentram-se nas regiões Sul e Sudeste, onde a imigração européia dos séculos XIX e XX foi mais intensa. Em (23) podem ser acessados vários artigos científicos sobre a Genealogia por DNA de autoria do Prof. Dr. Sergio D.J. Pena e sua equipe.
A seguir, apresento um breve resumo do uso do DNA para rastrear a ancestralidade dos indivíduos em termos geográficos, resumo esse baseado nos trabalhos contidos no site acima mencionado (23): existem vários tipos de polimorfismos genéticos em nível do DNA, classificados de acordo com a sua natureza molecular e localização no genoma humano. Aqueles presentes em cromossomos autossômicos configuram-se como ótimos marcadores de individualidade. Podem também ser úteis como marcadores informativos de ancestralidade (MIAs), desde que a diferença nas freqüências alélicas entre duas populações supostamente parentais seja grande. Já os polimorfismos uniparentais maternos (DNA mitocondrial) e paternos (determinadas regiões do cromossomo sexual Y) caracterizam-se por serem ótimos marcadores de linhagens, pois não há trocas de genes entre segmentos genômicos. Desta forma, os blocos de genes transmitidos às gerações seguintes permanecem inalterados nas linhagens paternas e maternas até que ocorra uma mutação, a qual é um evento raro. As mutações no DNA que ocorreram após a dispersão geográfica do homem moderno geraram variações que podem servir como marcadores geográficos por serem específicas de certas regiões do mundo. Deve ser salientado, ainda, que o DNA mitocondrial (mtDNA) e o cromossomo Y fornecem informações complementares que podem alcançar dezenas de gerações no passado, o que permite resgatar a história de um povo por meio das migrações realizadas pelas mulheres e homens, respectivamente. Quanto mais antigo for um agrupamento humano, maior será o número de mutações em seu genoma. Contudo, é importante lembrar que o mtDNA constitui uma parcela muito pequena da contribuição genética global dos antepassados de um indivíduo, cujo número cresce em progressão geométrica à medida em que caminhamos para o passado (ou seja, cada um de nós possui quatro avós, oito bisavós, dezesseis trisavós e assim por diante). Os estudos com o mtDNA revelam, dessa forma, informações sobre uma única antepassada e não sobre as demais. Analogamente, os polimorfismos do cromossomo Y fornecem informações sobre um único antepassado na linhagem masculina.
A interpretação dos resultados dos estudos recentes de Sérgio Pena e colaboradores leva à conclusão, já detectada por Palatnic e Lins et al. (2009), acima citados, de que a ascendência européia domina na população brasileira como um todo, embora tal população seja majoritariamente mestiça. 85% dos negros brasileiros têm uma ancestral africana, mas as linhagens paternas africanas estão representadas em apenas 47% deles – o restante tem ancestrais europeus em sua linhagem paterna (24).
Esse fato é condizente com a História, que mostra que muitos grupos indígenas foram massacrados pelos colonizadores, e muitos dos escravos africanos, como já vimos, não puderam se reproduzir, seja porque não havia mulheres disponíveis para eles, seja porque sua expectativa de vida era muito baixa. O estudo de Lins et al. (2009), assim como os demais, dão uma visão geral da ancestralidade do povo brasileiro. Nossa população é muito heterogênea, dada a dimensão do país, a complexidade do povoamento e das ondas migratórias, etc. Adicionalmente, tanto o fenótipo quanto a ancestralidade variam muito de indivíduo para indivíduo, como em outros países da América Latina.
Se parece surpreendente, por exemplo, o fato de que uma pessoa com biótipo africano ter uma ascendência predominantemente européia, é preciso levar em conta o fato de que, até onde se sabe, são poucas dezenas de genes (dentre os 20 mil estimados para o genoma humano como um todo) que coordenam as diferenças de pele, cabelos e olhos. Como escreveu Gilberto Freyre em Casa-Grande e Senzala: "todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo louro, traz na alma, quando não na alma e no corpo, a sombra, ou pelo menos a pinta, do indígena e do negro”.
No Brasil, tanto um indivíduo pode ser louro de olhos azuis e ter sua ancestralidade predominantemente africana como pode ocorrer o oposto (por exemplo, o cantor Neguinho da Beija Flor, de fenótipo negro, de acordo com uma análise do Laboratório Gene, coordenado por Sérgio Pena (UFMG), têm 67,1% dos genes com origem na Europa e apenas 31,5%, na África (25).
Considerações Finais
Os estudos filogeográficos, históricos e antropológicos efetuados em brasileiros “brancos” revelaram que a imensa maioria das linhagens paternas é européia, enquanto a maioria das linhagens maternas (mais de 60%) é indígena ou africana. Evidencia-se, assim, um padrão de reprodução muito conspícuo (homem europeu com mulheres indígenas e africanas), o qual está de acordo com tudo o que foi escrito por nossos historiadores e antropólogos sobre o povoamento pós-descobrimento do Brasil.
A elite racista do começo do século havia sonhado promover, com a imigração européia, o branqueamento da população. Entretanto, como os cientistas da UFMG mostraram, a integração dos imigrantes à população brasileira aumentou enormemente o número dos mestiços, muitos dos quais, à primeira vista, aparentam ser brancos e como tal são recenseados pelo IBGE. De acordo com esse instituto, a população brasileira assim foi dividida pelo Censo de 2010: os brancos representam 48,2% da mesma; os pardos, 44,2%; pretos,6,9% e amarelos e indígenas somam 0,7% (26).
Composição étnica do Povo Brasileiro segundo Censo de 2010 do PNAD/IBGE (26)
Ao contrário das previsões racistas, não foi o branco – ou qualquer outro contingente – que prevaleceu em nosso fenótipo médio, mas todos contribuíram para formar um povo novo – o brasileiro – cuja pele predominantemente morena deriva justamente da mistura de etnias que aqui se deu, através dos séculos. Os números do IBGE, que apontam uma ligeira prevalência de indivíduos brancos, devem ser tomados como aproximações, uma vez que a etnia é estabelecida a partir das respostas dadas à pergunta do recenseador (27).
A visão do Brasil como um "caldeirão racial" constitui o elemento predominante da formação nacional e mobilizou alguns dos mais importantes estudiosos no campo da sociologia e da antropologia. Gilberto Freyre foi pioneiro na separação entre "raça" e "cultura" e também o primeiro a destacar a miscigenação como ponto positivo. Em 500 anos de História, os brasileiros construíram nos trópicos um país de vasta e variada cultura. O Brasil é uma potência emergente e atualmente é a oitava maior economia do mundo, com possibilidades de ser a quinta maior economia do planeta no ano de 2030 (28); o povo brasileiro, com todas as dificuldades oriundas das diferenças de renda e de educação, aprende rápido e exibe capacidade incomum de adaptação e superação das adversidades. Essa é uma herança positiva da miscigenação que muitos pensadores da atualidade destacam, numa visão radicalmente diferente da que tinham as correntes intelectuais dominantes no Império, no início da República e até das minorias racistas atuais, as quais só vêem defeitos naquilo que é uma de nossas grandes virtudes como nação: a fusão harmoniosa de diferentes etnias.
Este pequeno ensaio pode ser concluído com as palavras de Darcy Ribeiro, às quais os estudos filogenéticos deram sólido embasamento científico: “o Povo Brasileiro formou-se a partir do cruzamento de uns poucos homens brancos com multidões de mulheres índias e negras”.
Sérgio Goulart Oreiro, D. Sc.
Referências bibliográficas:
1)http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=525
2) http://ordembrasilica.vilabol.uol.com.br/geneticabrasileiro.htm
3) http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/JohaFriB.html
4) http://www2.santoandre.sp.gov.br/news/1573/44
5) http://www.coladaweb.com/biografias/joao-ramalho
6) http://pt.wikipedia.org/wiki/Mamelucos
7 ) http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142004000100004.
8) http://need.unemat.br/4_forum/artigos/ewerton.pdf
9) http://www.wook.pt/authors/detail/id/5519
10) http://rius.com.br/sociedade-e-cultura/8062-a-definicao-de-uma-qpessoa-brancaq-difere-de-acordo-com-o-contexto-geografico-e-historico
11) http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/povoamento/tabelas/imigracao_nacionalidade.htm
12) Lins et al. (2009): Genetic composition of Brazilian population samples based on a set of twenty-eight ancestry informative SNPs
American Journal of Human Biology doi:10.1002/ajhb.20976
13)http://grabois.org.br/portal/cdm/revista.int.php?id_sessao=50&id_publicacao=161&id_indice=1123
14) http://www.laboratoriogene.com.br/geneImprensa/peNaTaba.htm
15) Maio, M. C. e Santos, R. V. (1998) (orgs.) Raça, Ciência e Sociedade. Rio de Janeiro: Fiocruz.
16) http://www.outrostempos.uema.br/curso/estado_poder/30.pdf
17) http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-59702008000100014&script=sci_arttext
18) http://www.feth.ggf.br/migra%C3%A7%C3%A3o.htm
19) http://www.uel.br/grupo-estudo/processoscivilizadores/portugues/sitesanais/anas8/artigos/CarlosRenatoCarola.pdf
20) http://www.fiocruz.br/ccs/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=20&sid=5
21) www.inteligenciacoletiva.com.br/culturanegra.doc
22) http://www.laboratoriogene.info/Cientificos/retrato.pdf
23) http://www.laboratoriogene.com.br/?area=genealogiaArtigos
24) http://revistapesquisa.fapesp.br/?art=3193&bd=1&pg=3&lg=
25) http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u300314.shtml
26)http://noticias.uol.com.br/especiais/pnad/2010/ultimas-noticias/2010/09/08/cresce-proporcao-de-pardos-e-pretos-no-pais-brancos-amarelos-e-indigenas-perdem-espaco.jhtm
27)http://www.censo2010.ibge.gov.br/download/questionarios/censo2010_amostra.pdf
28)http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL1458606-9356,00-ESTUDO+APONTA+O+BRASIL+COMO+A+ECONOMIA+MUNDIAL+EM.html
Ribeiro, D (1995): O Povo Brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras.
Freire, G. (1933): Casa Grande e Senzala: formação da família brasileira sob o regime de economia patriarcal. Rio de Janeiro: Maia & Schmidt, 517p.
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Causa e prevenção do câncer do colo do útero
O câncer do colo do útero está intimamente relacionado a um vírus chamado "papiloma vírus humano" ou HPV, que prolifera nos órgãos genitais como a vulva, a vagina, o colo do útero e também no pênis. Existem na natureza cerca de 80 tipos de HPV, sendo que alguns deles são inofensivos e causam as verrugas comuns. A transmissão desse vírus é feita através das relações sexuais e, como tal, o uso da camisinha é um ótimo meio para prevenir a infecção.
Embora a maioria dos homens infectados sejam portadores saudáveis do vírus, alguns desenvolvem verrugas no pênis, que podem ter a superfície lisa ou rugosa. Igualmente, a maioria das mulheres infectadas não apresenta nenhum sintoma; estes, quando estão presentes, consistem em prurido nos órgão genitais, dores durante a relação sexual e corrimentos.
Para prevenir essa doença, é essencial limitar o número de parceiros, usar preservativo e fazer exames preventivos com um ginecologista. Caso a mulher tenha um parceiro fixo, este deve procurar um médico para saber se está ou não infectado. O diagnóstico é feito através de exames preventivos como o papanicolao, a colposcopia, a biópsia (retirada de um pedacinho de tecido para análise) e a captura híbrida, um exame mais moderno que é o único capaz de diagnosticar a presença do vírus com 100% de certeza.
Atualmente existem várias formas de tratamento da infecção pelo HPV, como a criocirurgia (a qual utiliza um instrumento que congela e destrói os tecidos afetados), a aplicação de raios laser para igualmente destruir as lesões, a cirurgia de alta frequência, que também remove os tecidos afetados e a ingestão de medicamentos que fortalecem o sistema imunológico.
A ciência moderna proporcionou dois avanços na cura e prevenção dessa infecção: (1) na maioria dos casos, a lesão é curada e o vírus é erradicado do organismo e (2) já existem duas vacinas que podem prevenir a maior parte das infecções por esse vírus: a Vacina Quadrivalente, a qual protege contra quatro tipos do vírus HPV – os de número 6, 11, 16 e 18 –, que são responsáveis por 70% dos casos de câncer do colo de útero e por 90% das verrugas genitais; ela é indicada em mulheres entre 9 e 26 anos de idade. Um outro tipo de vacina protege contra os vírus 16 e 18. A idade recomendada para a vacinação é a mesma indicada para a primeira vacina citada. Em casos de dúvidas, as mulheres devem se manter sempre bem informadas consultando seus ginecologistas, evitando a automedicação e fazendo os exames preventivos com uma certa periodicidade.
Por fim, é importante mencionar que a presente postagem tem apenas caráter informativo e não pretende substituir a indispensável consulta médica.
Site para informações adicionais: http://www.gineco.com.br/hpv/hpv-cancer-colo-uterino.html
Embora a maioria dos homens infectados sejam portadores saudáveis do vírus, alguns desenvolvem verrugas no pênis, que podem ter a superfície lisa ou rugosa. Igualmente, a maioria das mulheres infectadas não apresenta nenhum sintoma; estes, quando estão presentes, consistem em prurido nos órgão genitais, dores durante a relação sexual e corrimentos.
Para prevenir essa doença, é essencial limitar o número de parceiros, usar preservativo e fazer exames preventivos com um ginecologista. Caso a mulher tenha um parceiro fixo, este deve procurar um médico para saber se está ou não infectado. O diagnóstico é feito através de exames preventivos como o papanicolao, a colposcopia, a biópsia (retirada de um pedacinho de tecido para análise) e a captura híbrida, um exame mais moderno que é o único capaz de diagnosticar a presença do vírus com 100% de certeza.
Atualmente existem várias formas de tratamento da infecção pelo HPV, como a criocirurgia (a qual utiliza um instrumento que congela e destrói os tecidos afetados), a aplicação de raios laser para igualmente destruir as lesões, a cirurgia de alta frequência, que também remove os tecidos afetados e a ingestão de medicamentos que fortalecem o sistema imunológico.
A ciência moderna proporcionou dois avanços na cura e prevenção dessa infecção: (1) na maioria dos casos, a lesão é curada e o vírus é erradicado do organismo e (2) já existem duas vacinas que podem prevenir a maior parte das infecções por esse vírus: a Vacina Quadrivalente, a qual protege contra quatro tipos do vírus HPV – os de número 6, 11, 16 e 18 –, que são responsáveis por 70% dos casos de câncer do colo de útero e por 90% das verrugas genitais; ela é indicada em mulheres entre 9 e 26 anos de idade. Um outro tipo de vacina protege contra os vírus 16 e 18. A idade recomendada para a vacinação é a mesma indicada para a primeira vacina citada. Em casos de dúvidas, as mulheres devem se manter sempre bem informadas consultando seus ginecologistas, evitando a automedicação e fazendo os exames preventivos com uma certa periodicidade.
Por fim, é importante mencionar que a presente postagem tem apenas caráter informativo e não pretende substituir a indispensável consulta médica.
Site para informações adicionais: http://www.gineco.com.br/hpv/hpv-cancer-colo-uterino.html
domingo, 27 de março de 2011
Como diferenciar depressão e tristeza
A depressão é uma doença séria que tanto pode ir se desenvolvendo aos poucos como pode ter um início brusco (como uma situação de luto por perda de um ente querido, por exemplo). No primeiro caso, os sintomas iniciais são um desejo crescente de isolamento social, perda ou aumento repentino do apetite, diminuição da libido, sensibilidade exagerada (a pessoa chora à toa), perda de interesse em atividades que antes costumavam ser prezeirosas, etc. Como muitos desses sintomas são comuns a fases de melancolia e tristeza às quais quase todos nós estamos sujeitos pelo menos uma vez na vida, só um psicólogo ou psiquiatra experiente pode fazer o diagnóstico da depressão na fase inicial da doença.
A depressão muitas vezes está associada com outras doenças, como ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo, etc (isso se chama comorbidade), mas pode ocorrer isoladamente. Todos esses distúrbios quase sempre têm base genética, e é importante que o paciente informe ao médico se tem casos de depressão na família.
A depressão que se segue a um evento traumático como a perda de um ente querido é, de certa forma, normal e se chama "depressão reativa" ou luto. Obviamente, ela requer tratamento para aliviar o sofrimento quando este é tão intenso que prejudica a vida social e profissional do paciente, mas só poderá ser caracterizada como depressão propriamente dita se continuar muito forte por mais de seis meses a um ano.
Em casos de suspeita de depressão, como já foi enfatizado, o paciente deve procurar o auxílio de um psiquiatra que seja treinado também em psicanálise, pois o tratamento da depressão envolve o uso de medicação apropriada e psicoterapia. Ou então a pessoa pode ir ao psiquiatra para avaliar a necessidade do uso de medicação e fazer a psicoterapia com um bom psicólogo. Embora os antidepressivos modernos sejam eficientes e apresentem um perfil de efeitos colaterais mais brando que o dos antidepressivos tricíclicos amplamente usados no passado, seu uso deve ser estritamente controlado pelo psiquiatra, por dois motivos: (1) eles demoram 3 a 4 semanas para começar a fazer efeito e (2) o medicamento inicialmente prescrito pode não fazer efeito para o paciente, sendo necessária a troca e um novo período de espera.
Para finalizar, eu volto a enfatizar, por ser muito importante, que quase todos nós passamos por períodos melancólicos em que sintomas parecidos com os de início de depressão se manifestam; a distinção, que deve ser feita por psiquiatras e/ou psicólogos, levará em conta o grau de seriedade desses sintomas e o tempo que a pessoa os vem manifestando. Ir a um psiquiatra não deve causar nenhuma vergonha, pois ao contrário de uma crença que ainda resiste em pleno século XXI, eles não são só "médicos de louco". Antes de terminar esse breve texto, um conselho importante: evitem a hipocondria e a automedicação!
A depressão muitas vezes está associada com outras doenças, como ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo, etc (isso se chama comorbidade), mas pode ocorrer isoladamente. Todos esses distúrbios quase sempre têm base genética, e é importante que o paciente informe ao médico se tem casos de depressão na família.
A depressão que se segue a um evento traumático como a perda de um ente querido é, de certa forma, normal e se chama "depressão reativa" ou luto. Obviamente, ela requer tratamento para aliviar o sofrimento quando este é tão intenso que prejudica a vida social e profissional do paciente, mas só poderá ser caracterizada como depressão propriamente dita se continuar muito forte por mais de seis meses a um ano.
Em casos de suspeita de depressão, como já foi enfatizado, o paciente deve procurar o auxílio de um psiquiatra que seja treinado também em psicanálise, pois o tratamento da depressão envolve o uso de medicação apropriada e psicoterapia. Ou então a pessoa pode ir ao psiquiatra para avaliar a necessidade do uso de medicação e fazer a psicoterapia com um bom psicólogo. Embora os antidepressivos modernos sejam eficientes e apresentem um perfil de efeitos colaterais mais brando que o dos antidepressivos tricíclicos amplamente usados no passado, seu uso deve ser estritamente controlado pelo psiquiatra, por dois motivos: (1) eles demoram 3 a 4 semanas para começar a fazer efeito e (2) o medicamento inicialmente prescrito pode não fazer efeito para o paciente, sendo necessária a troca e um novo período de espera.
Para finalizar, eu volto a enfatizar, por ser muito importante, que quase todos nós passamos por períodos melancólicos em que sintomas parecidos com os de início de depressão se manifestam; a distinção, que deve ser feita por psiquiatras e/ou psicólogos, levará em conta o grau de seriedade desses sintomas e o tempo que a pessoa os vem manifestando. Ir a um psiquiatra não deve causar nenhuma vergonha, pois ao contrário de uma crença que ainda resiste em pleno século XXI, eles não são só "médicos de louco". Antes de terminar esse breve texto, um conselho importante: evitem a hipocondria e a automedicação!
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