quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Estamos presenciando um aquecimento ou um desaquecimento global?

Como geólogo, eu gostaria de enfatizar que não sou "isento" a respeito da politização/radicalização do ambientalismo; ao contrário, eu tomo claramente o partido da busca da verdade orientada pela ciência, e não por qualquer tipo de ideologia.

Mas, de onde vem a oscilação climática entre o extremo frio e o calor ameno, propício ao desenvolvimento humano? Ainda no começo do século XX, um astrofísico sérvio chamado Milutin Milankovitch descobriu que a oscilação climática decorria de pequenas alterações periódicas na órbita da Terra em torno do Sol. Essas alterações produzem mudanças na incidência dos raios de sol em latitudes diversas e em várias e seguidas estações do ano. Milankovitch predisse que os mais fortes efeitos do fenômeno ocorreriam a intervalos de 19, 23, 41 e 100 milhares de anos.

A propósito das variações de temperatura atmosférica, a influência humana sobre elas, sem dúvida, existe; o problema é a escala. Os impactos locais e até regionais são sobejamente conhecidos - urbanização, ilhas de calor, mudança de padrões de vegetação, etc. Mas, a despeito de toda a celeuma, não há qualquer evidência sólida que permita concluir que a alta de temperaturas médias do planeta verificada nos últimos 150 anos, de 0,6-0,8 graus centígrados, se deva à ação humana. Muito provavelmente, trata-se de uma mera recuperação da Pequena Idade do Gelo que marcou os dois séculos precedentes. Esta última começou no século XVI e durou cerca de 3 séculos na Europa, atingindo o seu pico no ano de 1750.

Ao longo da maior parte da história geológica do planeta, as concentrações de CO2 foram bem maiores que as atuais, e nem sempre houve correlações das mesmas com as temperaturas globais. Assim, o que eu questiono, assim como outros (poucos) geocientistas, é a ultra-simplificação do fenômeno para atribuí-lo às emissões de gases de efeito estufa.

A mudança dos níveis oceânicos (eustasia) é conseqüência da glácio-eustasia (variações de volume de água do mar devido às glaciações), que, por sua vez, advém da variação climática; da tectono-eustasia (variações de volume das bacias oceânicas) e da eustasia geoidal (variações nos níveis oceânicos por ondulações no geóide). As movimentações na crosta terrestre (deformações das massas continentais) podem fazer com que, em algumas regiões, o nível do mar fique mais alto do que em outras, seja pela elevação da crosta terrestre (formação de montanhas) ou pelo abatimento de blocos continentais.

Quanto às recordações de pessoas mais velhas, elas não constituem bons indicadores de tendências climáticas bem definidas. As mudanças climáticas em escala planetária e de longo prazo só podem ser percebidas com o auxílio da História, pois dentro de cada ciclo climático ocorrem altos e baixos de todos os parâmetros relevantes para a nossa percepção - temperatura, umidade, correntes aéreas e marítimas, etc.

Os anos de 1990 e 2000 foram caracterizados por uma aceleração na taxa de aquecimento médio da Terra – isso é fato comprovado por medições científicas. A temperatura de nosso planeta tem aumentado lenta e progressivamente após a revolução industrial e a introdução, em larga escala, dos combustíveis fósseis nos processos de produção. Entretanto, como saber se essa tendência é duradoura ou faz parte de um evento cíclico? As próximas décadas nos dirão. É certo quer nosso planeta tem passado por eras glaciais periódicas, causadas por suas variações orbitais; A dinâmica climática é controlada por três categorias de fatores: astronômicos, atmosféricos e tectônicos. As causas específicas ainda não estão bem compreendidas, mas já se conhece a periodicidade dos ciclos, da ordem de centenas, milhares e milhões de anos. Informações obtidas da análise de sedimentos profundos e testemunhos de sondagens no gelo polar indicam que os períodos interglaciais são da ordem de 15 mil a 20 mil anos. Vivemos, pois, um desses períodos. Na última era, que finalizou há cerca de 12 mil anos, uma ponte natural se estabeleceu entre o Alasca e a Sibéria e partes das plataformas continentais sofreram exposição subaérea. Prova disso são os mapas de batimetria por satélite, que mostram cânions e cursos fluviais agora submersos. Somos também sujeitos às erupções de supervulcões, que lançam partículas atmosféricas, as quais já causaram e com certeza voltarão a causar pequenas eras glaciais com décadas ou séculos de duração. Estudos genéticos, lingüísticos e geológicos demonstraram que nossa espécie foi reduzida a alguns poucos indivíduos há cerca de 70 mil anos, devido ao longo e intenso inverno que se seguiu à erupção do supervulcão Toba, na Oceania. Isso explica a relativa homogeneidade genética da humanidade atual e exemplifica apenas um dos fatores que podem barrar o aumento sistemático das temperaturas da Terra.

Como já foi dito, estamos num período interglacial, de temperaturas relativamente elevadas e nível do mar relativamente alto. Não creio que a influência do homem possa impedir que, mais cedo do que supomos, nosso planeta experimente uma nova era glacial. As variações orbitais da Terra são muito mais importantes que qualquer influência do ser humano no clima global.

As amostras de gelo e de sedimentos oceânicos, o registro geológico, e os estudos de plantas e de antigas populações de animais demonstram um padrão cíclico regular de máximos de eras glaciais que duram cerca de 100.000 anos cada uma, separados por intervalos de aquecimento relativo, os interglaciais, cada um durando cerca de 12.000 anos. Vimos que a presente era interglacial, em cuja última metade nossa civilização se desenvolveu, já persiste por 12.000 anos. Modernas pesquisas, levadas a efeito nos anos mais recentes por grupos de cientistas europeus e americanos, confirmaram as teses e os ciclos anunciados por Milankovitch, e forneceram ainda novos pormenores, julgados por eles ainda mais alarmantes. Não só o fim da fase interglacial está próximo, mas a passagem de uma a outra fase do ciclo não é lenta ou gradual, não é "incremental", como se supunha, mas é, ao contrário, violenta e brusca, marcada por oscilações rápidas e potencialmente destruidoras (e ainda mal explicadas) da temperatura terrestre. Em outras palavras: a passagem de um ciclo a outro é cataclísmica, marcada por inundações, secas, fortíssimas tempestades, tufões e desastres diversos, provocados por oscilações da temperatura média que podem alcançar 15 ou 20 graus em poucas décadas, às vezes em períodos ainda mais curtos.

Em síntese, pela ciclicidade natural dos eventos descritos neste breve texto, é mais apropriado, em minha opinião, que nos preparemos para o início de uma nova era glacial e não para um intenso e prolongado aquecimento climático.


Sérgio Oreiro, D. Sc.

Um comentário:

  1. Sergio:
    Gostei muito do artigo. Muito ilustrativo.
    Parabéns.
    (31/3/2001 - Perret)

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