quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Liberdade - Fernando Pessoa

Como hoje meu trabalho rendeu bastante e estou feliz, presenteio meus leitores com um belíssimo poema de Fernando Pessoa, que me foi passado por um colega de trabalho, um português de setenta anos com fôlego de vinte. Assim todos nós começamos a noite muito bem.

Este poema, segundo o meu amigo,  foi escrito para ironizar o ditador português Salazar, que governou Portugal com mão de ferro entre 1932 e 1968; Salazar se orgulhava de ser um homem muito culto, possuidor de uma enorme biblioteca, que era por ele (e segundo ele) muito utilizada....

Liberdade


Ai que prazer

Não cumprir um dever,

Ter um livro para ler

E não o fazer!

Ler é maçada,

Estudar é nada.

O sol doura

Sem literatura.

O rio corre, bem ou mal,

Sem edição original.

E a brisa, essa,

De tão naturalmente matinal,

Como tem tempo não tem pressa.



Livros são papéis pintados com tinta.

Estudar é uma coisa em que está indistinta

A distinção entre nada e coisa nenhuma.



Quanto é melhor, quando há bruma,

Esperar por D. Sebastião,

Quer venha ou não!



Grande é a poesia, a bondade e as danças...

Mas o melhor do mundo são as crianças,

Flores, música, o luar, e o sol que peca

Só quando, em vez de criar, seca.



E mais do que isto

É Jesus Cristo,

Que não sabia nada de finanças

Nem consta que tivesse biblioteca...



Fernando Pessoa
Obrigado pela visita!

Um comentário:

  1. Hahahaha.....Amo Pessoa e agora entendendo o porquê desse poema, ele fica melhor ainda!!!

    Gi

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