quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Os astros do Corinthians e Augusto dos Anjos

Vi no telejornal, há alguns dias atrás, cenas que me lembraram um poema de Augusto dos Anjos. Que motivação fez com que centenas de homens, de todos os tamanhos, cores e idades, atacassem o ônibus que levava os jogadores do Corinthians, a ponto de provocarem uma batalha campal com a PM? Foram pedradas, balas de borracha, cassetetes, correria, tudo isso debaixo de uma linda tarde de sol.

Assim começa mais uma de minhas reflexões: esses caras não namoram, não curtem uma piscina, um passeio até o litoral? Será que, como no poema de Augusto dos Anjos, eles estão esperando o time voltar a vencer para tentarem trocar abraços, beijos e carícias com os astros do Corinthians? A que ponto o fanatismo faz com que as atitudes destes torcedores varie de acordo com o desempenho do time? Consta que Ronaldo Fenômeno escreveu em seu twitteer: “não vou dar a eles o gostinho de minha aposentadoria precoce”. Talvez Ronaldo e seus companheiros devessem ler Augusto dos Anjos....Será que um dia eles darão uma passadinha no Ciências e Poemas para ler este blogueiro, quando ele reproduz os versos do poeta da sinceridade cortante? Melhor seria se fosse num dia de vitória, de estádio lotado, de fãs pressionando o cordão de isolamento... Vamos lá:

                                 Versos Íntimos

Augusto dos Anjos
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera - 

Foi tua companheira inseparável!


Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

Já escolhi o poema para descrever a cena, agora falta a ciência apropriada para classificá-la!

Fonte: “Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século", organizado por Ítalo Moriconi para a Editora Objetiva - Rio de Janeiro, 2001, pág. 610.

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